domingo, 24 de janeiro de 2010

Beleza Obscena

Queria saber tirar foto com as palavras
Que a beleza que vejo não posso dizer.
Não cabe no verbo,
O adjetivo não inventaram
E o substantivo saiu correndo.

Ficou a gramática toda nua e sem graça
Procurando um advérbio
- ou interjeição qualquer -
Só pra tapar as partes...


quarta-feira, 15 de julho de 2009

Paixões

Tudo que arde, corre, salta, sorri, vive e muda. Mas também o que gela, para, cai, chora, morre e permanece. De todas as coisas o seu tanto, para cada coisa o seu tempo.

A grande fuga

Correu até o fim da rua. Olhou para os dois lados, com aqueles olhinhos inquietos, cheios de excitação. O coraçãozinho batia afobado, um palmo de coração contraindo ritmado... mas rápido, rápido demais. Como tudo, tão rápido, a eternidade toda no minuto. À frente, o mundo. Todo o mundo, todos os perigos, e estava lá, ele, sozinho... sentia-se tão corajoso por estar ali! Sua pequena aventura o enchia de orgulho.

Lembrou-se de sua promessa. Prometera. Havia dito, havia avisado. Ninguém deu ouvidos. Azar o deles, ah, sim! Não perdem por esperar. Nem vão acreditar quando virem, quando virem o que fora capaz de fazer. Aí eles vão ver só uma coisa. Verão como estavam errados, todos, tão errados! Pobres deles.

Pobrezinhos. Sua mãe ficaria preocupada. Sabia que ficaria... e na rua adiante tinha um cachorro enorme. Correria atrás dele quando passasse? O que ele faria? Não conseguiria fugir rápido o suficiente... Seria o caso para uma luta? Teria chances? Precisaria de um banho. Mas onde? E o leite com chocolate antes de dormir... onde dormiria?

Coitadinhos deles, não fizeram por mal. Achava mesmo que já tinha ido longe o bastante, todos já tinham visto do que era capaz. Poderia conceder agora... o perdão. Esperaria mais um pouco. Ninguém viria atrás dele? Estava esperando já fazia bem uns cinco minutos. Será que o tinham visto sair? Ninguém sentira sua falta? Era um latido aquilo? Daqui a pouco ia escurecer...

Desfez a trouchinha que levava ao ombro, abriu o chocolate e voltou para casa; quando chegou o chocolate já havia terminado e levou uma bela bronca por comer doce antes do jantar. Já pro banho, menino!

Verdades relativas, dúvidas absolutas

Se o meu amor tivesse um nome, seria solidão.
Se o meu amor tivesse forma, seria ilusão de ótica.
Se o meu amor tivesse som, seria ouvido.
Se o meu amor tivesse verbo... seria interrogação.

Que o pensamento é sempre maior que a palavra
O sentimento, sempre mais que coração
E o ato, falho, sempre falho.

É que no desecontro
Se a interrogação tivesse verbo...
Se o sussuro fosse ouvido...
Se a ilusão tivesse forma...
Se a solidão tivesse nome...
Seria amor.

Mas o ato é falho.
Sempre falho.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Eu gosto assim

Vou, ai que vou
Vou acolá
Vou só vou
E nem me espere.

Deixa que todo mundo quer o sol,
Vou andar na chuva
Quando a rua é minha.
Todos vão pelo atalho
Eu vou pelo caminho que faz curva,
e desce e sobe e pede:
não vai!

Tenta me vencer
Que assim é melhor.

Quero as pedras,
Sentir cada músculo doer...
Que o trajeto mais tortuoso
Esconde melhor seu destino.

Nunca voltar de novo
Pra lá, que já passou
E já doeu.
Onde é novo a gente nunca sabe
Se vai se não vai
Vai ver que nem dói
E se - ai! -
A nova é diferente.

Vou sozinha
Vou por ali
Vou sozinha
E não volto.